O dia em que eu vi o dia inesquecível

1.1.11 O dia que será para sempre diferente de tudo o que já vimos, diferente de tudo o que já ousamos sonhar. O dia em que uma ex-guerrilheira foi saudada por generais. Um dia que uma ex-presa política foi alçada ao mais alto posto da nação. Um dia em que o machismo foi toldado pelo nacionalismo. Foi um dia de riso, de emoção, de congraçamento, de abraços históricos e emocionados. Emocionado, aliás, foi o adeus do agora ex-presidente Lula. Ao descer a rampa, o ex-metalúrgico encerrou um ciclo vitorioso tanto economica quanto socialmente do nosso Brasil. Lula desceu a rampa e fez o que dele centenas esperavam: foi ao encontro do abraço desconhecido, do carinho anônimo, do amor do seu povo. Ela subiu a rampa e nossos olhos ficaram marejados. Ele desceu a rampa e as lágrimas foram mais forte que tudo. Lágrimas por esse dia inesquecível.

Fim de um ciclo


Encerrei ontem meu ciclo de viagens acompanhando o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Foram dois anos e quatro meses, 61 viagens (sem contar as que caíram), em que conheci 51 cidades de 19 estados, das cinco regiões do país. Comecei por Santo André/SP e terminei em Salvador/BA. Neste meio tempo, sobrevoei o mar, o cerrado, a floresta amazônica, os pampas, o sertão nordestino. Andei em uma plataforma de petróleo, celebrei o dia do Índio na Reserva Indígena Raposa Serra do Sol, subi favelas no Rio de Janeiro, ouvi explicações sobre como funciona uma hidrelétrica, soube como é construída uma ferrovia, fiz uma “eclusagem”. São tantas lembranças... Conheci gente simples, humilde, honesta e sorridente. Vi lugares devastados pelas chuvas e pela seca. Andei na Ferrovia Norte-Sul, cruzei um pedaço do canal que levará as águas do rio São Francisco ao sertão, percorri uma barragem, vi o trabalho de grandes obras de infra-estrutura. Acreditei, pois vi com meus próprios olhos, que o Brasil mudou. Eu mudei. Estou mais cansada, com muitos quilos a mais mas feliz. Como dizem os militares, me sinto em missão cumprida. Foi uma missão por vezes muito, muito dura. Tive que improvisar, calcular, medir, pensar para não errar. Quis sempre fazer o melhor. Nem sempre consegui. Errei muito, eu sei. Mas nunca desisti. Foram anos de ausência da família, dormindo nem sempre em lugares aprazíveis, chamando o hotel de casa, tratando os colegas como irmãos, acostumando-me a dormir sentada, a comer qualquer coisa, a chorar escondido e a sorrir prazeirosamente. Foram anos bons, muito bons, acompanhando e assessorando “o cara”, o presidente mais popular da história do nosso Brasil. Um cara simpático, risonho, chorão, cativante. Um grande mestre na arte da política, na arte da humildade, na arte da palavra, na arte de amar ao seu povo, a sua gente. O presidente que olhou para os mais pobres, que privilegiou a todos e não só a uma minoria. Um presidente que soube ver além de todos, escolheu sua sucessora e venceu mais uma. Um presidente que não teve vergonha de chorar em público, que não se fez de rogado para saltar de palcos e ir abraçar a todos, que quebrou regras e protocolos, que sorriu, chorou, fez sorrir e fez chorar. Foi um período extraordinário. Absolutamente extraordinário. Obrigada presidente Lula.

Valorizando nossas origens

Missão Velha, cidadezinha do interior do Ceará, no sertão nordestino. É fim de tarde, faz muito calor, e uma multidão espera há horas pelo presidente Lula. Ele vem conhecer um trecho da ferrovia Transnordestina. Quando sobe ao palco, seu discurso escrito é deixado de lado, assim como o protocolo. O presidente discursou por 27 minutos e o tom de sua fala foi de incentivo ao povo nordestino. Disse o presidente: A gente não quer ser só pedreiro, a gente quer ser engenheiro, a gente quer ser o médico, a gente quer ser outras coisas. Por que nivelar a gente por baixo? Por que achar que nós somos o rodapé, quando a gente quer ser o forro?

Esse foi o tom do discurso, esse é o tom da fala do presidente. Sempre. E não só ao povo nordestino ele dirige seu incentivo para que não se sintam coitadinhos. Ele incentiva o povo brasileiro, porque a síndrome do coitadinho não pode existir mais. Nem entre os nordestinos, nem entre os nortistas, sulistas... Nós não somos coitadinhos. Somos um povo forte, trabalhador, vencedor. Não à toa temos aquele ditado: “eu sou brasileiro e não desisto nunca”. Vencemos a fome, não desistimos frente às dificuldades, levamos milhares de brasileiros à classe média, jovens de todo o Brasil entraram na universidade, casais compram suas casas próprias... E muito desta mudança se deve ao fim do complexo de coitadinho, apregoado pelo presidente Lula nesse e em tantos outros discursos. Não somos coitadinhos. Não queria aqui usar a frase do Obama, “sim, nós podemos”, mas é inevitável. Sim, nós podemos mais, nós queremos mais. Nós não vamos mais abaixar a cabeça para os países ditos desenvolvidos. Nós agora somos desenvolvidos. Nós agora vamos às hordas ao exterior, compramos no free shop, visitamos a terra do Mickey, conhecemos o Marrocos, trazemos i-pods, i-phones... Nós podemos. Como sempre digo, o Brasil mudou. Em Missão Velha, em São Paulo, no interior nordestino, nos grandes centros. O Brasil mudou. Nós mudamos.

Um programa de auditório no sertão pernambucano

Vila Junco é uma localidade incrustada às margens da Transmaconheira, rodovia que corta Pernambuco e tem esse pejorativo apelido por ser usada por traficantes de drogas. Vila Junco foi criada para abrigar as famílias que foram desalojadas por conta das obras de transposição do Rio São Francisco. É um lugar quente, muito quente. Fica a mais de 400 km da capital, Recife. Mas não pense que é um lugar feio, não. Fica às margens do Velho Chico, em um terreno plano de onde se avistam ao longe belas montanhas. Eu estive lá em outubro do ano passado, quando o presidente foi sortear as casas da Vila Junco. A cerimônia previa que ele sortearia cinco das 54 casas. Previa. Do verbo não aconteceu. Ao ser informado que iria sortear apenas cinco casas, ele reclamou e avisou: "vou sortear todas". Mandou a segurança abrir a grade e organizar as famílias, porque queria que todos subissem ao palco para receber suas chaves. E assim foi feito. Colocou todos no palco - governador, deputados, ministros... - para ler o nome dos moradores dos papeizinhos que tirava de um grande saco. Até o cinegrafista oficial teve que ler.
A imprensa tratou a cerimônia, pejorativamente, como um programa de auditório. Realmente parecia. E o Silvio Santos encarnado pelo presidente Lula animou a platéia como nunca. Para os moradores daquela vila afastada de tudo foi um momento mais do que especial. Além de receberem a chave da casa própria, a recebiam de ninguém menos do que o próprio Lula. E com direito a abraço, beijo e foto. Muitos desciam do palco aos prantos. A imprensa aguardava para entrevistá-los e jamais vou esquecer o rosto de uma senhora que, após enxugar as lágrimas, se abraçou na repórter e disse: "minha filha, eu não consigo falar nada. Escreva o que você quiser, eu não consigo falar". E se foi, segurando o choro e agarrando com toda a força do mundo a chave de sua sonhada casa na longínqua, quente mas feliz Vila Junco.

Mais um dia especial


Eles são muitos. Não sei seus nomes. Não sei sua profissão. Nem onde moram. Não sei se têm filhos, se são casados. Não sei para qual time torcem, não sei se são católicos, se gostam de caipirinha ou preferem cerveja. Não os conheço. Mas os vejo sempre, ávidos por um toque, mãos estendidas, sorrisos nervosos, olhos atentos. Querem ver o cara. Querem tocar nele. Querem - desejo maior - abraçá-lo e tirar uma foto. Ah, e quando conseguem... Congratulam-se, abraçam-se, mostram os celulares um para o outro, com a foto conquistada. Dão risadas alto, antevendo o momento de contar para a mulher que hoje sim, é verdade, hoje ele abraçou o presidente da República. O Lula. O cara. O cara que quebrou o protocolo e, ao invés de cumprir agenda, foi ao encontro dos braços estendidos, dos gritos, dos apelos. É apenas mais um dia que eu vejo isso. Mas sei que é um dia especial para eles. Não sei onde irão dormir hoje. Não sei o que farão amanhã. Mas sei que o dia de hoje ficará marcado em suas memórias. Foi um dia especial.

* foto Ricardo Stuckert

Minha dor inseparável

Nada, nada, nada, nada me dói mais do que ouvir minha mãe dizer que sente muita saudade de mim. Nada me machuca mais do que isso. Nada mais faz meu coração sangrar como ouvi-la dizer que sente a minha falta. A distância é uma serpente má, uma vilã que me persegue há seis anos, um mal que me ronda todos os dias, incessantemente. A distância me faz sempre, sempre, sempre ter saudades. E essa saudade me persegue até nos meus sonhos, é minha companhia mais inseparável, em cada um desses seis anos. Nada, nada, nada fere mais meu coração do que saber que estou longe, sempre longe e que isso me impede de ver sorrisos, de dar abraços, de receber beijos e carinhos. A distância me impede de acompanhar meus pais em sua velhice. Me impede de ver o desenvolvimento dos meus sobrinhos. Me impede de rir com meus irmãos. A distância me aparta de suas festas, de suas alegrias, de seus aniversários, do casamento do meu primo sábado que vem. Sim, eu estou sempre, sempre, sempre ausente. Sim, fui eu quem escolhi. E eu aceito essa carga, todos os dias, todos os momentos em que a saudade me sufoca e se transforma em dor física. Eu aceito que essa dor que sinto todos os dias é de minha própria responsabilidade. Eu aceito. E isso faz com que a dor seja ainda maior. Ela vem em ondas, todos os dias. Ela me invade quando acordo, ela está presente quando vou dormir. Em todos os instantes, sinto a distância. E choro.

Só os audaciosos vencem

Cristiano Rocha é um senhor franzino, pequeno, aparentando mais de 60 anos, com ar cansado mas olhar atento e determinado. Seu Cristiano não teve vida fácil. É portador de uma doença que por muito tempo foi incurável, o que fazia com que seus portadores fossem isolados e sofressem de muito preconceito. Ele tem hanseníase, que muitos conhecem por lepra.
Conheci o seu Cristiano semana passada, em Belém. Ao saber que o presidente Lula estaria em um evento na capital paraense, seu Cristiano se arrumou e foi até o centro de convenções. Entrou no salão grande, cheio de gente, e foi indo até a frente do palco. Uma fita o separava do palco onde estaria o presidente. Uma fita deveria mantê-lo afastado. Deveria. Mas não manteve. Uma fita era nada para ele, que estava lá com uma determinação firme. Precisava falar com Lula. Ele esperou por um longo tempo. Esperou porque tinha uma missão, estava determinado.
Seu Cristiano esperou. Viu o evento começar, viu o presidente Lula subir ao palco. E esperou. Ouviu várias pessoas falarem. Continuava esperando. Ele tinha uma missão, estava determinado. E no momento em que o presidente Lula pegou o microfone para seu discurso, ele aproveitou. Chegou a sua hora. Seu Cristiano ignorou a fita que o separava e foi até Lula. O presidente então viu, no chão em frente ao palco, aquele senhor franzino que falava sem parar, gesticulava, falava e falava. Lula não hesitou: o acolheu e, ao ver que ele não parava de falar, lhe passou o microfone. Seu Cristiano então teve a chance e deu o seu recado. E o fez quebrando um protocolo, vencendo seus medos, ultrapassando barreiras de segurança. Ele começou sua fala pedindo desculpas por interromper a cerimônia e alertando: só os audaciosos vencem. Seu Cristiano queria agradecer ao presidente Lula por ter criado uma pensão indenizatória aos que foram internados por terem hanseníase. E terminou agradecendo: “A gente vai lá ao presidente e pede, mas a gente esquece de agradecer, e nós não podíamos deixar passar essa oportunidade. As pessoas que sofreram tiveram uma mudança na sua vida com o recebimento da pensão indenizatória. Mudou demais a vida dessas pessoas. Muitos reconstruíram suas casas, outros, por conta da deficiência, puderam comprar um carro financiado”.
Seu Cristiano saiu de sua casa, percorreu as ruas de Belém, passou por detectores de metais, subiu escadas, esperou. Tudo isso para agradecer. Somente agradecer.

O vídeo com o depoimento do seu Cristiano: http://www.youtube.com/watch?v=q_Kw0xMlRpA
Era uma vez uma guria que decidiu ser jornalista. Na faculdade e principalmente no dia-a-dia aprendeu o ofício. Desenvolveu o dom de escrever, aprendeu técnicas de reportagem e ouviu, muitas e muitas vezes, professores e colegas discorrerem sobre a imparcialidade da mídia. Ingênua, acreditou que a imparcialidade fosse regra para todos. Rá! Doce ilusão.
Sim, era uma vez uma guria - eu - que acreditava que o papel da mídia era reportar. Mostrar. Contar. Dizer. Apontar. Descrever. Sem sentimentos aflorados, sem opiniões manifestas. Doce, doce ilusão.
Não, não foi nessa eleição que me dei conta de que não existe imparcialidade no jornalismo. A ilusão se foi já há algum tempo. Porém, nessa eleição é que me dei conta de que, além de parcial, a mídia pode ser cruelmente mentirosa. Pode usar o seu pretenso poder para incutir o que de mais sórdido possa querer, contra quem quiser, a seu bel prazer. É nojento.
Sim, estou desiludida. Muito desiludida. Amo o que faço, amava ser repórter, amava ser editora. Admiro os bons profissionais, sua luta pela notícia, sua coragem, sua dedicação. Mas em certas horas me envergonho ao ver coleguinhas passarem por cima de suas crenças apenas para honrarem aquilo que seus patrões acreditam. É degradante. Essa campanha tem sido suja, dura, cruel. Que chegue logo o dia 31, please.

Minha vida é andar por esse país



Novo Hamburgo, Porto Alegre, São Paulo, Belém, Porto Velho, Alta Floresta, Campina Grande, Porangatu, Maceió, Talismã, Curitiba... Tantas cidades, tantas lembranças. Dois anos que percorro o Brasil ao lado do presidente mais popular da história do Brasil. Eu o vi chorar, ser abraçado, eu o vi sorrir, o vi ser vaiado. Eu chorei, sorri, me estressei, jurei desistir, prometi perseverar. Tantos, tantos sentimentos. Uma história de vida.

Eu voto!