Fim de um ciclo


Encerrei ontem meu ciclo de viagens acompanhando o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Foram dois anos e quatro meses, 61 viagens (sem contar as que caíram), em que conheci 51 cidades de 19 estados, das cinco regiões do país. Comecei por Santo André/SP e terminei em Salvador/BA. Neste meio tempo, sobrevoei o mar, o cerrado, a floresta amazônica, os pampas, o sertão nordestino. Andei em uma plataforma de petróleo, celebrei o dia do Índio na Reserva Indígena Raposa Serra do Sol, subi favelas no Rio de Janeiro, ouvi explicações sobre como funciona uma hidrelétrica, soube como é construída uma ferrovia, fiz uma “eclusagem”. São tantas lembranças... Conheci gente simples, humilde, honesta e sorridente. Vi lugares devastados pelas chuvas e pela seca. Andei na Ferrovia Norte-Sul, cruzei um pedaço do canal que levará as águas do rio São Francisco ao sertão, percorri uma barragem, vi o trabalho de grandes obras de infra-estrutura. Acreditei, pois vi com meus próprios olhos, que o Brasil mudou. Eu mudei. Estou mais cansada, com muitos quilos a mais mas feliz. Como dizem os militares, me sinto em missão cumprida. Foi uma missão por vezes muito, muito dura. Tive que improvisar, calcular, medir, pensar para não errar. Quis sempre fazer o melhor. Nem sempre consegui. Errei muito, eu sei. Mas nunca desisti. Foram anos de ausência da família, dormindo nem sempre em lugares aprazíveis, chamando o hotel de casa, tratando os colegas como irmãos, acostumando-me a dormir sentada, a comer qualquer coisa, a chorar escondido e a sorrir prazeirosamente. Foram anos bons, muito bons, acompanhando e assessorando “o cara”, o presidente mais popular da história do nosso Brasil. Um cara simpático, risonho, chorão, cativante. Um grande mestre na arte da política, na arte da humildade, na arte da palavra, na arte de amar ao seu povo, a sua gente. O presidente que olhou para os mais pobres, que privilegiou a todos e não só a uma minoria. Um presidente que soube ver além de todos, escolheu sua sucessora e venceu mais uma. Um presidente que não teve vergonha de chorar em público, que não se fez de rogado para saltar de palcos e ir abraçar a todos, que quebrou regras e protocolos, que sorriu, chorou, fez sorrir e fez chorar. Foi um período extraordinário. Absolutamente extraordinário. Obrigada presidente Lula.

Valorizando nossas origens

Missão Velha, cidadezinha do interior do Ceará, no sertão nordestino. É fim de tarde, faz muito calor, e uma multidão espera há horas pelo presidente Lula. Ele vem conhecer um trecho da ferrovia Transnordestina. Quando sobe ao palco, seu discurso escrito é deixado de lado, assim como o protocolo. O presidente discursou por 27 minutos e o tom de sua fala foi de incentivo ao povo nordestino. Disse o presidente: A gente não quer ser só pedreiro, a gente quer ser engenheiro, a gente quer ser o médico, a gente quer ser outras coisas. Por que nivelar a gente por baixo? Por que achar que nós somos o rodapé, quando a gente quer ser o forro?

Esse foi o tom do discurso, esse é o tom da fala do presidente. Sempre. E não só ao povo nordestino ele dirige seu incentivo para que não se sintam coitadinhos. Ele incentiva o povo brasileiro, porque a síndrome do coitadinho não pode existir mais. Nem entre os nordestinos, nem entre os nortistas, sulistas... Nós não somos coitadinhos. Somos um povo forte, trabalhador, vencedor. Não à toa temos aquele ditado: “eu sou brasileiro e não desisto nunca”. Vencemos a fome, não desistimos frente às dificuldades, levamos milhares de brasileiros à classe média, jovens de todo o Brasil entraram na universidade, casais compram suas casas próprias... E muito desta mudança se deve ao fim do complexo de coitadinho, apregoado pelo presidente Lula nesse e em tantos outros discursos. Não somos coitadinhos. Não queria aqui usar a frase do Obama, “sim, nós podemos”, mas é inevitável. Sim, nós podemos mais, nós queremos mais. Nós não vamos mais abaixar a cabeça para os países ditos desenvolvidos. Nós agora somos desenvolvidos. Nós agora vamos às hordas ao exterior, compramos no free shop, visitamos a terra do Mickey, conhecemos o Marrocos, trazemos i-pods, i-phones... Nós podemos. Como sempre digo, o Brasil mudou. Em Missão Velha, em São Paulo, no interior nordestino, nos grandes centros. O Brasil mudou. Nós mudamos.