Só os audaciosos vencem

Cristiano Rocha é um senhor franzino, pequeno, aparentando mais de 60 anos, com ar cansado mas olhar atento e determinado. Seu Cristiano não teve vida fácil. É portador de uma doença que por muito tempo foi incurável, o que fazia com que seus portadores fossem isolados e sofressem de muito preconceito. Ele tem hanseníase, que muitos conhecem por lepra.
Conheci o seu Cristiano semana passada, em Belém. Ao saber que o presidente Lula estaria em um evento na capital paraense, seu Cristiano se arrumou e foi até o centro de convenções. Entrou no salão grande, cheio de gente, e foi indo até a frente do palco. Uma fita o separava do palco onde estaria o presidente. Uma fita deveria mantê-lo afastado. Deveria. Mas não manteve. Uma fita era nada para ele, que estava lá com uma determinação firme. Precisava falar com Lula. Ele esperou por um longo tempo. Esperou porque tinha uma missão, estava determinado.
Seu Cristiano esperou. Viu o evento começar, viu o presidente Lula subir ao palco. E esperou. Ouviu várias pessoas falarem. Continuava esperando. Ele tinha uma missão, estava determinado. E no momento em que o presidente Lula pegou o microfone para seu discurso, ele aproveitou. Chegou a sua hora. Seu Cristiano ignorou a fita que o separava e foi até Lula. O presidente então viu, no chão em frente ao palco, aquele senhor franzino que falava sem parar, gesticulava, falava e falava. Lula não hesitou: o acolheu e, ao ver que ele não parava de falar, lhe passou o microfone. Seu Cristiano então teve a chance e deu o seu recado. E o fez quebrando um protocolo, vencendo seus medos, ultrapassando barreiras de segurança. Ele começou sua fala pedindo desculpas por interromper a cerimônia e alertando: só os audaciosos vencem. Seu Cristiano queria agradecer ao presidente Lula por ter criado uma pensão indenizatória aos que foram internados por terem hanseníase. E terminou agradecendo: “A gente vai lá ao presidente e pede, mas a gente esquece de agradecer, e nós não podíamos deixar passar essa oportunidade. As pessoas que sofreram tiveram uma mudança na sua vida com o recebimento da pensão indenizatória. Mudou demais a vida dessas pessoas. Muitos reconstruíram suas casas, outros, por conta da deficiência, puderam comprar um carro financiado”.
Seu Cristiano saiu de sua casa, percorreu as ruas de Belém, passou por detectores de metais, subiu escadas, esperou. Tudo isso para agradecer. Somente agradecer.

O vídeo com o depoimento do seu Cristiano: http://www.youtube.com/watch?v=q_Kw0xMlRpA

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